Reviravolta demasiado ardente: As irmãs Jorge cintilam em Oeiras
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. O apuramento da dupla lusa para as meias-finais foi digno de um filme de Hollywood. |
Havia calor no final da tarde.
Daqueles que se colam à pele e fazem brilhar o ar. Em Oeiras, a luz dourada
filtrava-se pelas copas das árvores e pousava sobre o court como um véu
incandescente. O tempo parecia hesitar ali — entre a derrota iminente e o sopro
da esperança.
Foi nesse cenário crepitante que duas
irmãs de Guimarães, Francisca e Matilde Jorge, acenderam a centelha
de mais uma reviravolta, daquelas que só acontecem quando o coração é maior que
o cansaço.
O jogo da variante de pares começara torto. O primeiro
‘set’ escapou-lhes por entre os dedos: 4-6 frente à dupla formada
por Elena Pridankina e Éden Silva, que no dia anterior haviam
derrubado as primeiras cabeças de série. A história parecia repetir-se, mas o
ténis tem destas surpresas — é no segundo ‘set’ que se testam os nervos e se
revelam as convicções.
Com uma desvantagem de 4-0, as irmãs
Jorge estavam literalmente entre a espada e a parede. E foi aí, nesse ponto de
quase não retorno, que mostraram por que motivo continuam a cintilar nos
torneios internacionais.
A arte de reescrever finais!
Não é somente técnica ou talento que
alimenta estas recuperações. É resistência, é a memória de jogos passados. É
também a sintonia de quem joga lado a lado desde a infância, com o instinto
afinado pelo sangue.
Francisca e Matilde não só
igualaram o marcador como fecharam o segundo ‘set’ por 6-4, empurrando a
decisão para um supertiebreak que teve tanto de tenso como de mágico:
10–7. Vitória arrancada a ferros a escaldar, celebrada com punhos cerrados e
olhares cúmplices. Um daqueles momentos em que o desporto deixa de ser somente
competição, sendo poesia em movimento.
Na rota do título… outra vez
Esta vitória apura as irmãs Jorge
para as meias-finais do Oeiras CETO Open, onde vão defrontar a checa Anastasia
Detiuc e a norte-americana Quinn Gleason, terceiras cabeças de série.
O desafio promete, mas as portuguesas trazem consigo o embalo de quem já venceu
neste mesmo palco em 2024 — e de quem há uma semana revalidou o título no WTA 125
do Jamor.
É o quarto torneio da época que
ganham juntas — à procura do quinto, sem esconder a fome de mais.
Ecos de outras batalhas
Nem todas as portuguesas conseguiram
avançar. Na outra metade do quadro, Angelina Voloshchuk, também ela
representante nacional, e a russa Ekaterina Yashina foram travadas
pelos golpes precisos de Ekaterine Gorgodze e Oksana
Kalashnikova, da Geórgia, pelos parciais de 6-3 e 6-4.
O caminho afunila, e o calor do final
da tarde — agora menos físico e mais simbólico — começa a deixar marcas nas
raquetes e nas decisões.
Coração de campeãs
O ténis de Francisca e Matilde Jorge
não se mede apenas em vitórias ou estatísticas. Mede-se em resiliência, em
coragem e numa ligação que vai além da quadra. São irmãs, cúmplices e parceiras
— e talvez seja isso o mais temido pelas adversárias: não jogam sozinhas, jogam
em família.
E enquanto houver calor no final da
tarde, haverá sempre espaço para mais uma reviravolta.
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