O vento levou a última sombra lusa
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: ITF. Angelina triste com a derrota. |
No ressoar húmido das chuvas de abril, entre relvados que pingavam memórias por abrir, o Oeiras Open WTA 125 ergueu-se como palco de esperança para quatro nomes, quatro rostos, quatro promessas de um país que ainda se descobre na arte do ténis feminino.
Angelina Voloshchuk, prestes a cruzar
o umbral dos dezoito anos, foi a última a tocar a corda da ilusão. Esperou, como
quem espera um verão fora de tempo, por entre atrasos e silêncios, para então
cair com dignidade frente à mais experiente Nina Stojanovic, pelos parciais de 5-7 e 2-6. O primeiro ‘set’
foi combate de igual para igual — até que uma dupla falta, cruel e banal, se
ergueu como metáfora da juventude que aprende à custa dos detalhes.
Depois, o segundo ‘set’ deslizou como
o fim de um romance anunciado: três breaks consecutivos, uma
mudança de court que nada mudou, e um adeus que não precisava
de ser dito para ser sentido. Como as suas compatriotas — Francisca, Matilde,
Inês — também Angelina partiu sem vitória, deixando a grelha principal órfã de
bandeiras lusas.
E assim se esvaziou o quadro de
singulares femininos, tão cedo, tão abruptamente, como um sopro de vento que
apaga todas as velas antes da festa começar.
Fica a pergunta: vale a pena sonhar
alto em casa própria, quando as estrelas parecem tão distantes das raízes da
terra? A resposta talvez resida na semente e não no fruto. Porque mesmo que
nenhuma tenha vencido, todas semearam.
E isso, por vezes, é o primeiro
capítulo de uma história que continua por ser escrita.
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