Francisca Jorge reencontra-se em Oeiras: “Estou mais tranquila, mais eu”

                                                            Por António Vieira Pacheco

A número um portuguesa fala sem rodeios.
Créditos: FPT. A mais velha das irmãs, Jorge, fala em Conferência de Imprensa da carreira.

Em Oeiras, onde a terra batida conhece bem os passos firmes de Francisca Jorge, a sexta-feira de Liberdade trouxe mais do que uma vitória. Trouxe paz, trouxe confirmação. E trouxe, sobretudo, um reencontro com a melhor versão de si mesma — a que joga com prazer, a que sorri ao competir, a que transforma o vento em aliada e a pressão em leveza.

A tenista portuguesa, finalista em 2023, regressou às meias-finais do Clube Escola de Ténis de Oeiras ao bater a jovem russa Elena Pridankina com uma exibição de qualidade, firmeza e cabeça limpa.

“Estou muito contente. Fiz um encontro bastante bom desde o início, com boas linhas de jogo. Estava bastante vento, mas fui fiel ao que tinha de fazer e fi-lo com bastante qualidade.”

O equilíbrio reencontrado: “Agora estou mais tranquila”

Este regresso ao alto nível não é fruto do acaso, nem somente do talento. É, sobretudo, fruto de uma transformação interior que a própria Francisca assume sem rodeios:

“Tive um final de ano passado um pouco difícil a nível de emoções e mentalidade. Não estava com o chip certo. O ténis estava lá, a cabeça não e assim não há milagres.”

Agora, diz, reencontrou-se. Voltou a sentir-se mais próxima da sua essência: “Tenho tentado mudar esse chip, a tentar ser mais positiva. Ser mais o que sou fora do campo, tranquila e alegre. Não estava assim fora do campo e isso passava para o jogo.”

Com serenidade nos olhos e amor confesso pela modalidade — “adoro ténis, é uma paixão ridícula” —, a mais velha das irmãs, Jorge avança para as meias-finais com a confiança de quem encontrou o seu lugar. “Estou no caminho certo.”

A dureza dos pontos e a leveza da mente

O desafio contra Pridankina exigiu resiliência. No segundo ‘set’, a russa subiu a agressividade, mas a portuguesa soube esperar, resistir e responder: “Ela no segundo ‘set’ foi mais agressiva, eu aguentei as primeiras bolas e depois recuperei.” As boas sensações voltaram, especialmente nesta terra batida de Oeiras, em contraste com o desconforto sentido no Jamor dias antes.

Agora, pela frente, está a belga Greet Minnen, ex-número 59 mundial e atual top 100. Francisca sabe o que a espera: “Ela é bastante agressiva e gosta de comandar o ponto.” Mas não se deixa intimidar: o plano passa por devolver o desconforto. “A ideia é colocar-lhe bolas que a deixem desconfortável.”

“Espero sempre o menos possível”

Com uma maturidade tranquila, Kika também revela uma nova filosofia de vida competitiva. Esperar menos, para sentir mais. “Espero sempre o menos possível para evitar desilusões. O que às vezes é bom.”

E com um sorriso meio tímido, meio iluminado por quem começa a entender-se melhor, confessa: “Sempre fui muito negativa e um pouco medricas na vida. Mas vou a adquirir algumas coisas e a maturidade também dá isso.”

No final do dia, Francisca ainda teria um novo compromisso ao lado da irmã Matilde Jorge — a 39.ª final de pares da carreira à vista. Mas já ali, na conferência de imprensa, o brilho do olhar dizia tudo: a vitória já era muito mais do que um resultado. Era o reflexo de um novo estado de alma.

 

 


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