Martinho, o senhor dos ventos, interrompe encontros em Loulé
Por António Vieira Pacheco
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| Martinho não perdoa: ventos e chuva congelam jornada de ténis em Loulé. |
O
início de uma jornada marcada
Pela
fúria da natureza
A depressão Martinho chegou sem
solicitar licença, rodopiando sobre Loulé como um bailarino furioso. Trouxe nos
bolsos um sopro de tempestade e, na lapela, um alfinete de chuva. O céu, que
até então sussurrava sereno, trocou o azul pelo cinza e abriu-se em rajadas,
lembrando que no ténis, por vezes, há adversários que não empunham raquetes.
O Future de Loulé, torneio inserido
no circuito ITF, prometia uma tarde de emoções fortes. Em court estavam nomes
portugueses como Francisco Rocha, Diogo Marques, Pedro Araújo e Tiago
Pereira, todos prontos a defender o ténis nacional diante de rivais vindos
de diferentes pontos do mundo.
Mas, em vez da lógica do ‘ranking’ ou da estratégia do jogo, foi Martinho — a
depressão atmosférica que atravessava o sul de Portugal — quem decidiu assumir
o protagonismo.
As nuvens adensaram-se, o vento
começou a soprar em rajadas e, num piscar de olhos, a organização viu-se
obrigada a suspender os encontros. O ténis deu lugar a uma luta desigual contra
a força dos elementos.
Francisco Rocha: vantagem interrompida pelo vento
Francisco Rocha entrou em court determinado e
confiante. Frente ao sueco Henrik Bladelius, mostrou consistência desde o
início. Com pancadas firmes, procurou variar as direções e não dar ritmo ao
adversário.
O plano resultava: o portuense venceu
o primeiro ‘set’ por 6-4 e, no segundo, já liderava por 4-1.
O triunfo parecia encaminhado, mas o vento, ciumento, decidiu roubar-lhe o
palco. Rajadas cada vez mais fortes tornaram o jogo impraticável, e o árbitro
não teve alternativa senão suspender a partida. Francisco deixou o court
com a serenidade de quem sabe que a vantagem é sua, mas também com a frustração
de quem foi travado por um adversário invisível.
Diogo Marques: luta interrompida em pleno equilíbrio
Noutro court, Diogo Marques
enfrentava o tunisino Moez Echargui. O encontro não começara da melhor forma
para o português, que perdeu o primeiro ‘set’ por 6-2.
No entanto, recuperou a concentração
e elevou o nível de jogo no segundo ‘set’. Quando o marcador assinalava 3-3, e
a esperança de equilibrar o encontro ganhava força, o céu escureceu e o vento
decidiu pôr termo ao duelo. Marques saiu do court com a sensação de incompleto:
estava a meio de uma recuperação que o tempo não deixou concluir.
Pedro Araújo e Tiago Pereira
Marinheiros à espera da calmaria
Diferente foi a sorte de Pedro Araújo
e Tiago Pereira. Os dois tenistas portugueses nem chegaram a iniciar os seus
encontros. Contra Rafael Izquierdo Luque e Ryan Peniston, respetivamente,
aguardaram em vão por uma oportunidade de entrar em court. Como marinheiros
presos em porto, viram a tempestade crescer e compreenderam que a batalha teria
de esperar por águas mais calmas.
O torneio suspenso pela vontade de Martinho
Com a força da depressão Martinho, a
organização suspendeu toda a jornada. Os jogadores recolheram, o público
procurou abrigo e os courts ficaram entregues ao vento e à chuva. No ténis, há
interrupções por lesões, problemas técnicos ou falta de luz natural. Mas desta
vez, foi a natureza que impôs a pausa, lembrando que no desporto, tal como na
vida, há forças que escapam ao controlo humano.
Expectativas para o dia seguinte
Se Martinho for magnânimo, amanhã
devolverá o céu aberto e permitirá que o torneio siga o seu curso. Para Rocha,
será a oportunidade de confirmar a vitória que já parecia ao alcance. Para Marques, um novo recomeço na tentativa de equilibrar as contas contra
Echargui.
Já Pedro Araújo e Tiago Pereira terão finalmente a hipótese de lançar-se à batalha que o vento lhes negou.
No entanto, tudo dependerá da fúria — ou da calma — de Martinho, o senhor dos ventos.
A importância do Future de Loulé para o ténis português
O torneio de Loulé é um dos pontos
importantes do calendário do ténis português. Inserido no circuito ITF, oferece
oportunidades cruciais a jogadores nacionais para somarem pontos, testarem o
seu nível competitivo e enfrentarem adversários de diferentes escolas de ténis.
Para jovens como Francisco Rocha, Diogo Marques, Pedro Araújo e Tiago
Pereira, estes torneios são mais do que encontros: são etapas no processo
de crescimento e afirmação internacional.
O ténis e a imprevisibilidade
O episódio em Loulé é um lembrete da
imprevisibilidade do desporto. Assim como um break pode mudar a maré de um ‘set’,
uma súbita mudança meteorológica pode inverter o rumo de um torneio. Há algo de
poético nesta vulnerabilidade: no court, os jogadores treinam para controlar
cada gesto, cada batida, mas continuam dependentes do que escapa ao seu
alcance.
Em Loulé, a metáfora foi clara. Não
venceu o mais alto no ‘ranking’, nem o mais experiente. Nem houve bolas de break, nem tiebreaks decisivos. Houve apenas vento, chuva e a autoridade de Martinho,
que interrompeu a jornada e deixou a todos em suspenso.
Manda o Martinho
Se o ténis é feito de disciplina, talento e estratégia, também é feito de surpresas. Nesta terça-feira, em Loulé, a maior surpresa veio do céu.
Francisco Rocha, Diogo Marques, Pedro Araújo e Tiago Pereira terão de esperar. O público terá de regressar. A organização terá de reorganizar o calendário. Porque, nesta história, não mandaram as raquetes nem os árbitros.
Manda o vento. Manda a chuva. Manda o Martinho.

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