Formação de árbitros da região Norte de ténis de mesa: entre avanços e polémica
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Entrar no Mundo das Modalidades
⏱️ Tempo de leitura: 4 minutos
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A chave da casa entregue a quem chegou de visita. Ironias que abrem portas — e controvérsias. |
Uma ação que deveria unir…, mas dividiu
O recente encontro de formação
contínua de árbitros do Norte, promovido pelo Conselho Nacional de Arbitragem
da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa, pretendia ser um momento de
valorização e crescimento. No entanto, acabou por abrir feridas antigas e
levantar novas questões sobre organização regional, representatividade e
respeito institucional.
O evento, realizado no Porto, foi
anunciado como uma oportunidade para capacitar árbitros, partilhar boas
práticas e reforçar o papel de quem garante a verdade desportiva. Contudo, em
vez de se afirmar como um ponto alto, ficou marcado por um episódio que
deixaram no ar um sentimento de desvalorização, sobretudo para os árbitros da
Associação de Ténis de Mesa do Porto (ATM Porto).
O simbolismo da entrega da chave
Um dos momentos que mais gerou
desconforto foi a entrega simbólica da chave das instalações onde se
realizou a ação de formação. O gesto, que podia ser lido como sinal de cooperação, foi
feito ao presidente do Conselho Distrital de Arbitragem de Vila Real — um convidado — e não a
um representante da casa que acolheu a iniciativa.
O simbolismo não passou despercebido.
Alguns viram um claro desrespeito neste ato para com os árbitros e dirigentes
da região do Porto, que historicamente têm dado contributos decisivos para o
crescimento da arbitragem. Foi uma escolha que soou mais a descuido ou
provocação do que a homenagem.
O
“fantasma” do convite recusado
Acresce ainda que, segundo informações apuradas pelo Entrar no Mundo das Modalidades, o presidente do Conselho Distrital de Vila Real terá sido convidado a regressar ao cargo de presidente do Conselho Distrital de Arbitragem (CDA) do Porto.
O convite terá
sido eventualmente feita por um elemento da lista para estes órgãos sociais,
mas acabou por ser prontamente recusada, deixando a autoria no mistério.
Ora, esta situação levanta algumas perguntas:
- Se
foi feito o convite, significa que a atual estrutura do CDA Porto era
segunda escolha?
- O
que levou a pensar em importar um dirigente de outro distrito para liderar
a arbitragem portuense?
- Como
se sentem os árbitros locais ao perceberem que o seu trabalho pode ser
facilmente posto em causa?
- Não confiam nos árbitros da região?
Quem conhece quem?
Outro dado preocupante prende-se com
a ligação frágil entre a direção da ATM Porto e os elementos do CDA.
É público que o atual presidente da associação não conhece bem os elementos que compõem o seu conselho distrital de arbitragem, que ainda não se reuniu desde a
tomada de posse.
Essa distância traduz-se em
dificuldades de comunicação, em falta de acompanhamento e numa sensação de
abandono por parte de quem está no terreno, dirigindo encontros. Um dirigente
que não conhece os seus árbitros dificilmente os pode defender ou valorizar.
É inegável que a formação foi bem
estruturada a nível técnico. O Conselho Nacional de Arbitragem apresentou
conteúdos relevantes, alinhados com as regras internacionais e com as
exigências atuais da modalidade. A melhor formação de sempre presenciada pelo
Entrar no Mundo das Modalidades!
Os árbitros do Norte, que, diariamente,
enfrentam diversos desafios, precisam de mais do que discursos. Precisam de
sentir-se integrados, valorizados e respeitados. A ausência desse
reconhecimento minou, em parte, o impacto da formação.
O peso do contexto
Não se pode ignorar o contexto mais
amplo: a arbitragem em Portugal vive um momento difícil. Faltam árbitros
jovens, há sobrecarga para os mais experientes e muitas vezes a remuneração não
compensa o esforço.
Quando a base é frágil, qualquer
gesto de desconsideração — como o da entrega simbólica da chave ou a perceção
de afastamento entre dirigentes e árbitros — ganha peso redobrado. O que podia
ser um detalhe transforma-se em símbolo de algo maior: a falta de estratégia
para valorizar quem está na linha da frente da modalidade. Um exemplo é que a
Federação da Andaluzia, Espanha, tem mais árbitros do que Portugal Continental
e ilhas.
Oportunidade perdida
Em vez de servir para unir árbitros do Porto, esta ação acabou por
ser mais um episódio de divisão. Oportunidade perdida para criar pontes e dar
sinais claros de valorização.
O mais grave é que estes sinais negativos não se apagam com facilidade. Ficam na memória dos árbitros, que já se sentem pouco reconhecidos, e alimentam um clima de desconfiança relativamente às estruturas dirigentes.
Se as direções associações querem de
facto reforçar a arbitragem, é necessário mudar práticas:
1. Respeitar os árbitros locais: reconhecer o trabalho e a dedicação
de quem está no terreno.
2. Valorizar a proximidade: os dirigentes têm de conhecer
pessoalmente os seus árbitros, ouvir os seus problemas e procurar soluções.
3. Evitar simbolismos mal interpretados: pequenos gestos, como a entrega de
uma chave, podem ter grande impacto. É necessário pensar antes de agir.
4. Construir confiança: apostar na transparência e no
diálogo, para que convites ou mudanças não soem a manobras de bastidores.
Mais do que regras, é preciso respeito
A formação de árbitros do Norte
poderia ter sido lembrada como um marco positivo, um passo em frente para
consolidar competências. Em vez disso, ficará na memória pela polémica, pelos
simbolismos mal calculados e pela sensação de desrespeito.
Num tempo em que o ténis de mesa precisa de árbitros motivados e comprometidos, não se pode poder afastá-los com decisões pouco sensíveis. A arbitragem vive de regras claras, mas também — e sobretudo — de respeito humano. E é precisamente aí que falhou esta ação. A culpa não foi do Conselho Nacional de Arbitragem, pois o seu elemento presente não recebeu também a chave.
A arbitragem portuense
merecia muito mais.
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