Matilde Jorge: A persistência silenciosa do ténis lusitano
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis
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Matilde leva pneu no primeiro parcial, após opera reviravolta na Roménia. |
Sabia que
Matilde Jorge já conquistou títulos internacionais de pares ao lado da irmã Francisca, tornando-se a melhor dupla portuguesa da atualidade?
Entre quedas e reviravoltas, escreve a sua história
O ténis é feito de detalhes. De dias
em que a confiança oscila. De jogos onde a dúvida se instala para depois ceder
lugar à coragem. É nesse fio delicado entre fragilidade e força que se move Matilde
Jorge, a segunda melhor tenista portuguesa da atualidade, e uma das figuras
mais promissoras do ténis feminino nacional.
Em Bistrita, na Roménia, Matilde
(248.ª WTA) mostrou essa essência. Frente à cazaque Zhibek Kulambayeva (318.ª),
a jovem portuguesa de 21 anos começou perdida, levou um duro 0-6 na primeira
partida. No entanto, não se deixou por intimidar. Foi como um acidente de
percurso, como um pneu para trocar na sua máquina. Após encontrou no silêncio
interior a energia para regressar ao jogo. Venceu o segundo ‘set’ por 7-5.
Confirmou a reviravolta com autoridade: 6-2 no terceiro, ao cabo de 2h05.
Foi um triunfo que não deu manchetes
internacionais. Contudo, revelou a fibra de quem sabe que cada vitória, por
pequena que pareça, é um tijolo na construção de um sonho maior.
O
caminho de uma jovem lutadora
Matilde não caminha sozinha. Cresceu
lado a lado com a irmã Francisca Jorge, com quem forma também a melhor
dupla portuguesa. Unidas dentro e fora do campo de ténis, as irmãs têm transportado para
o ténis nacional uma energia nova. Uma espécie de renascimento silencioso do
ténis feminino português.
Com somente 21 anos, Matilde tem já
um percurso notável. Passou pelos torneios ITF espalhados pela Europa. Disputou
jogos em terra batida, dura e indoor. Viveu as longas viagens, as esperas
solitárias em aeroportos, os treinos em cidades desconhecidas. E continua a
acreditar.
Entre quedas e ascensões
Em Kursumlijska Banja, na Sérvia, Matilde ficou-se pela segunda ronda.
Uma passagem breve, que poderia ter deixado cicatrizes. Porém, o ténis, como a
vida, é feito de renascimentos. Em Bistrita, soube transformar a fragilidade
inicial em força renovada.
Agora prepara-se para discutir um
lugar nos quartos de final, O
desafio seguinte é contra a romena Ilinca Dalina Amariei (367.ª). Não
será fácil. Como também não há vitórias fáceis no caminho que leva ao topo.
O voo discreto
O ténis de Matilde é como o voo de
uma ave discreta. Não rasga os céus ruidosos dos grandes torneios. Nem vive sob
a pressão constante das câmaras. Porém, avança, firme, entre campos secundários
e plateias pequenas.
Cada pancada de direita é um verso.
E cada serviço é uma promessa. Cada recuperação é uma metáfora de persistência.
Existe uma beleza escondida em vê-la jogar. Não é o brilho do espetáculo. É a luz
suave da resistência.
A juventude que traz esperança
A vimaranense representa futuro. Num
ténis português que tantas vezes dependeu de nomes isolados, ela mostra que a
perseverança pode multiplicar-se. A sua juventude é uma arma: tem tempo para
crescer, para falhar, para aprender.
No fundo, é isso que distingue os que chegam longe. Não é somente o talento, mas a capacidade de transformar derrotas em combustível. Em cada reviravolta, Matilde reafirma essa força silenciosa.
Sabia que
Em 2025, Matilde tornou-se pela primeira vez número um de Portugal, confirmando a sua evolução constante no circuito profissional?
O ténis longe da ribalta
A verdade é simples: o ténis feminino
português vive longe da ribalta. Poucos reparam, poucos comentam. Mas é nesse
espaço de sombra que se revelam as histórias mais puras.
Matilde Jorge joga por si, mas também
por um desporto que em Portugal ainda luta por ganhar espaço. Joga por todas as
meninas que sonham, raquete na mão, em transformar tardes de treino em futuros
de glória.
Em Bistrita, a vimaranense deu uma
lição que não se mede somente em números. Mostrou que a força está na capacidade
de recomeçar. Que até de um 0-6 pode nascer uma vitória.
O ténis português pode ainda não ter
lugar fixo na ribalta internacional. Mas em cada gesto de Matilde há uma
promessa. A promessa de que o futuro, mesmo discreto, está a ser construído.
O seu ‘ranking’ oscila, os torneios sucedem-se, as viagens continuam. Mas a sua persistência é estável. Como um poema escrito em terra batida. Um poema que se lê melhor devagar, ponto a ponto, jogo a jogo, vitória a vitória.
Sabia que
A jovem vimaranense treina em Portugal, mas passa grande parte do ano a competir fora do país, muitas vezes em torneios sem transmissão televisiva?
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