Jaime Faria: conquistou a primeira vitória no US Open e o rio que se deixou domar
🖋️Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: ATP Tour
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Jaime Faria entra com a mão direita na cidade onde ninguém dorme. |
Canhão do Jamor passou primeiro rio
À segunda foi de vez. Jaime Faria,
lisboeta de 22 anos e número 118 do ‘ranking’ ATP, conquistou em Flushing
Meadows o seu primeiro triunfo no US Open. O qualifying, até aqui um obstáculo
intransponível, abriu espaço para um triunfo que pode marcar o início de uma
nova etapa na sua ainda jovem carreira.
O adversário foi o japonês Rio Noguchi (196.º), e o jogo transformou-se numa metáfora perfeita. Um rio bravo, difícil de travar, que parecia prestes a arrastar Faria para fora do torneio logo na estreia.
E primeiro parcial confirmou o receio, com Noguchi a
vencer por 6-3. Porém, o número dois português, resiliente como quem não aceita
o naufrágio, encontrou ritmo, coragem e serenidade para remar contra a corrente
e inverter o destino.
Com parciais de 3-6, 6-4 e 6-3,
o português não só venceu o encontro, como conquistou o direito de sonhar mais
alto em Nova Iorque.
A tempestade inicial e a viragem decisiva
O arranque não foi feliz. O serviço
não encontrava consistência, as trocas de fundo eram controladas pelo japonês e
o português mostrava sinais de nervosismo. Todavia, o ténis é feito de momentos e o
Canhão do Jamor soube esperar pelo seu.
Na final do segundo ‘set’, o jogador do
Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis ergueu o nível.
Procurou o break, conquistou-o e igualou o encontro. O gesto mais simbólico
estava no corpo: ombros mais leves, passos mais firmes, raquete mais solta.
No parcial decisivo, Faria mostrou
maturidade. Com 10 ases e uma esquerda afinada com o serviço, tomou a
dianteira do marcador. Chegou a desperdiçar uma vantagem inicial, mas manteve a
calma. E, no derradeiro jogo, com a confiança dos que sabem que a vitória está
próxima, fez o break que lhe garantiu o triunfo.
Sabia que?
A bola de ténis, ao ser batida num serviço profissional, pode percorrer o campo de ténis em menos de 0,5 segundos, exigindo reflexos quase instantâneos do adversário.
O sonho do quadro principal
O triunfo em Nova Iorque tem um
significado especial: permite ao lusitano perseguir o quarto quadro principal da
carreira em torneios do Grand Slam.
E o lisboeta já havia passado
o qualifying no Australian Open (onde ainda somou uma vitória no quadro
principal) e em Wimbledon. Pelo meio, teve entrada direta em Roland Garros,
reforçando a sua presença contínua nos maiores palcos do ténis mundial.
Sabia que?
Em 2025, Portugal fez história em Roland Garros: pela primeira vez, três jogadores — Nuno Borges, Jaime Faria e Henrique Rocha — disputaram em simultâneo o quadro principal masculino de singulares.
No US Open, Faria terá de enfrentar
agora o vencedor do embate entre o libanês Hady Habib (165.º) e o
italiano Giulio Zeppieri (260.º). A missão não é fácil, mas a confiança
está em alta.
Nova Iorque: palco de lendas e sonhos
Flushing Meadows é mais do que um
torneio. É um mosaico de histórias, palco onde John McEnroe explodiu em fúria,
Serena Williams ergueu troféus e Novak Djokovic consolidou a sua lenda. A
cidade que nunca dorme transforma-se, durante duas semanas, no centro do
universo do ténis.
Para Faria, pisar estas quadras é
mais do que competir: é inscrever-se na tradição de ousar sonhar grande. Um
português em busca de espaço numa arena global onde cada ponto é celebrado como
uma nota na sinfonia frenética de Nova Iorque.
Sabia que?
O US Open é o único Grand Slam a jogar-se em superfícies rápidas com bolas diferentes para homens e mulheres. Uma particularidade que influencia o estilo e a duração dos encontros.
Paralelamente: Henrique Rocha em ação
Hoje, outro português procura a sua
oportunidade. O portuense Henrique Rocha entra em ação contra o francês Pierre-Hugues
Herbert (139.º), antigo campeão de pares em torneios do Grand Slam.
Rocha, tal como Faria, sonha com a
primeira vitória em Flushing Meadows. A coincidência é reveladora: duas jovens
promessas portuguesas a tentar abrir espaço no mais competitivo dos cenários.
Metáforas do jogo: o rio e o navegante
A vitória contra Noguchi pode ser
descrita como uma fábula: de um lado, o Rio, metáfora de força,
movimento e imprevisibilidade. Do outro, Faria, o navegante português que
aprendeu a controlar a embarcação mesmo em águas turbulentas.
O primeiro ‘set’ foi naufrágio, mas no
segundo Faria construiu jangadas de confiança. E, no terceiro, navegou em
corrente favorável até desembarcar na margem segura da vitória.
Sabia que?
O nome “Noguchi” tem origem japonesa e pode ser associado a “campo da porta”. Contra o “Rio da porta fechada”, Jaime Faria encontrou a chave da vitória.
O ténis português em ascensão
A geração atual mostra sinais de
maturidade e ambição. Nuno Borges, firme no top 50, abriu caminho. Jaime
Faria, com apenas 22 anos, já soma presenças regulares em qualifyings e
quadros principais. Henrique Rocha, de 20 anos, cresce em ritmo e
consistência.
Nunca o ténis português teve tanta
representatividade em simultâneo no circuito ATP e nos Grand Slams. É uma fase
dourada que contrasta com os tempos em que apenas nomes isolados apareciam
esporadicamente.
Sabia que?
Portugal teve a sua primeira vitória
num Grand Slam masculino em 1989, com Nuno Marques em Roland Garros.
Um rio domado, um caminho aberto
A estreia vitoriosa de Jaime Faria no
US Open é mais do que um resultado. É a confirmação de que o jovem lisboeta tem
maturidade para enfrentar cenários adversos e transformar derrotas parciais em
vitórias completas.
Contra Noguchi, aprendeu que nem
sempre a corrente inicial dita o rumo final. Como quem rema contra a maré e
encontra águas mais calmas, Faria navegou até à primeira vitória em Flushing
Meadows.
Num ténis português que cresce em
representação e resultados, este triunfo é símbolo de esperança. A nova geração
não se contenta em participar. Quer deixar marca.
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