Henrique Rocha e a tarde cinzenta no Porto: entre a maré alta e a corrente contrária

🖋️Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis

⏱️ Tempo de leitura: 3 minutos

Portuense desilude em casa e levou um pneu no segundo parcial.
Portuense, de camisola preta, viveu uma tarde cinzenta na CT Porto Cup.

PORTO — O regresso de Henrique Rocha a casa, à CT Porto Cup, parecia ter todos os ingredientes para uma estreia triunfal.

Terceiro cabeça de série do torneio e com a energia ainda fresca de quem acabara de lutar no qualifying do US Open, o jovem de 21 anos tinha diante de si um palco ideal. Com o público a puxar, o ambiente familiar e a confiança de jogar onde cresceu.

Mas o ténis, como as marés que sobem e descem no Douro, é imprevisível. E foi numa dessas correntes traiçoeiras que Mika Brunold, número 316 do mundo, construiu a surpresa que deixou o portuense à deriva.

Um primeiro ‘set’ de marés agitadas

Durante mais de uma hora, Rocha tentou remar contra o vento. Sofreu quebras de serviço, recuperou duas vezes, acreditou quando chegou ao mini break no tiebreak. Era como se quisesse agarrar o jogo com as duas mãos, mas a rede quebrou-se no momento decisivo. Brunold, mais leve nas decisões, venceu o “tira-teimas” e deixou Rocha sem o chão firme de quem joga em casa.

Quando o Porto se tornou nevoeiro

A partir daí, o encontro mudou de tom. A confiança, que até então se confundia com a energia das bancadas, esvaiu-se como nevoeiro ao final do dia sobre a Foz do Douro. Rocha deixou de acreditar.

 Os pontos fugiam-lhe das mãos, o corpo parecia não responder, e até o árbitro de cadeira sentiu necessidade de o questionar sobre a quebra abrupta de intensidade. Não foi somente uma derrota no segundo ‘set’ por 6-0. Foi um vazio competitivo, uma noite em que as lâmpadas do Dragão pareciam apagadas, mesmo estando acesas no coração de quem o apoiava.

Brunold, o visitante que se fez gigante

Para Mika Brunold, esta foi a vitória mais significativa da época. Um triunfo sobre um jogador mais bem posicionado, num palco que não lhe era natural, mas onde demonstrou a frieza de quem nada tinha a perder. O suíço transformou a fragilidade alheia em combustível próprio, dominando cada troca de bola com a serenidade de quem percebeu que o jogo já não estava nas mãos do favorito.

A dor de perder em casa

Há derrotas que doem mais do que outras. Jogar em casa, sentir o apoio do público e ainda assim não conseguir corresponder é uma dessas dores. 

O Porto, que tantas vezes foi porto seguro para Rocha, tornou-se metáfora de naufrágio. A corrente empurrou-o para longe da vitória, e nem a garra que tantas vezes o define apareceu para resgatá-lo.

No final, restou-lhe a companhia do irmão, Francisco Rocha, que celebrara mais cedo a passagem à ronda seguinte. O contraste entre ambos foi evidente. Um sorriu com o triunfo; o outro carregou o peso de uma eliminação precoce e inesperada.

Perspetivas de futuro

Henrique Rocha ainda terá oportunidade de redimir-se na variante de pares, ao lado de Francisco. Mas a verdadeira oportunidade de recuperação surgirá já na próxima semana, no Challenger de Sevilha. Aí, longe de casa e sem o peso simbólico da terra natal, talvez encontre novamente a leveza necessária para fazer brilhar o ténis que o colocou entre os melhores da nova geração portuguesa.

Entre a luz e a sombra

O ténis é um desporto cruel.

Não basta talento, não chega o apoio do público, nem sempre a experiência recente se traduz em confiança. No Porto, Rocha viveu um início de tarde em que a cidade que o embala lhe virou as costas, como um Douro em tempestade.

 Mas é também desse contraste entre luz e sombra que nascem os grandes jogadores.

O caminho continua, e cada derrota é um mestre silencioso. Se o futuro de Rocha for tão promissor quanto os seus primeiros passos deixaram antever, este dia cinzento será somente mais uma curva na estrada. 

No Porto perdeu-se, mas talvez tenha aprendido algo que nenhuma vitória poderia ensinar. Uma viagem longa dos Estados Unidos para Portugal pode trazer dissabores. O fuso horário é diferente e o jetlag funciona.

 

 

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