Frederico Silva: a poesia resistente de um tenista português em Sófia

🖋️Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: ATP Tour

⏱️ Tempo de leitura: 2 minutos
A nova vida de Frederico Silva no circuito.
Frederico Silva está apurado para os quartos de final do Challenger de Sófia.

Sabia que

A carreira de Frederico não foi linear. Sofreu com lesões no cotovelo e no ombro, que o afastaram em momentos cruciais e o obrigaram a recomeçar várias vezes.

Das Caldas do coração ao mundo

Há jogadores que vivem no brilho dos grandes palcos, com holofotes permanentes e multidões em êxtase. E há outros, discretos, mas intensos, que transformam cada court em mais um degrau de resistência.

Frederico Silva, conhecido no circuito como Kiko, é desses. Tenista das Caldas da Rainha, habituado a recomeçar após quedas, ele voltou a mostrar a sua fibra no Challenger 75 de Sófia, onde já garantiu presença nos quartos de final.

Desde cedo mostrou talento com a raquete. A sua ascensão júnior foi meteórica, coroada com o título de campeão do Australian Open em pares juniores, em 2012, ao lado de Kyle Edmund — britânico que seria semifinalista de Grand Slam.

Esse feito projetou o jovem português como uma promessa mundial. Porém, no ténis, como na vida, nada é linear. A transição para o circuito sénior trouxe desafios que exigiram mais do que talento: solicitaram paciência, resiliência e fé.

Um estilo de jogo que respira poesia

Assistir a Frederico em court é presenciar uma cadência particular: a esquerda a duas mãos que desliza, o jogo de pés ágil, a serenidade que esconde a chama competitiva.

Não é um jogador que ganha pelo excesso de potência, mas pela inteligência tática, pela forma de esculpir os pontos, tal como um pintor insiste em dar textura à tela até que a imagem ganhe sentido.

As batalhas invisíveis

A carreira de Kiko não foi somente feita de vitórias. Lesões no cotovelo e no ombro travaram a sua progressão. O ‘ranking’ oscilou, por vezes empurrando-o para lugares distantes dos holofotes, obrigando-o a competir em torneios menores, muitas vezes longe de casa e das manchetes.

Mas a maior beleza da sua história talvez esteja aí: no levantar-se após cada queda. Cada regresso ao court é um manifesto silencioso de que a paixão é mais forte do que a dor.

Sófia: a confirmação de um espírito persistente

Esta semana, em Sófia, a persistência do caldense voltou a ser recompensada. Após superar um embate português, o tenista de 30 anos confirmou o estatuto de quinto cabeça de série ao superar o suíço Mika Brunold por 6-3 e 7-5.

Foi uma vitória sólida, num jogo em que chegou a liderar a segunda partida por 5-2 antes de fechar a porta a qualquer reação adversária.

Com este resultado, Frederico atingiu os sextos quartos de final da temporada e os terceiros em torneios Challenger em 2025. Em Sófia, igualou as campanhas já alcançadas no Jamor e em Brasov, na Roménia.

À procura do próximo passo

Na sexta-feira, Kiko terá pela frente o vencedor do duelo entre Alvaro Guillen Meza (248.º ATP), o equatoriano segundo cabeça de série, e o russo Marat Sharipov (276.º). Independentemente do adversário, o objetivo é o mesmo: alcançar a sua melhor campanha do ano neste circuito competitivo.

O que está em jogo não é somente uma vitória. É um avanço no ‘ranking’, uma afirmação de consistência e, sobretudo, a prova de que ainda há caminho por escrever no ténis português.

Metáfora de resiliência

O caldense representa muito mais do que um jogador a lutar ponto a ponto. Ele é metáfora de todos que insistem, que não desistem perante obstáculos invisíveis.

Quando empunha a raquete, leva consigo não somente a ambição individual, mas o orgulho de uma cidade pequena que o viu nascer e o carinho de quem acompanha a sua carreira desde os tempos de júnior.

No silêncio de muitos courts secundários, onde não há multidões, mas unicamente meia dúzia de apaixonados, ele escreve páginas que merecem ser lidas.

O futuro ainda por conquistar

Com 30 anos, Kiko sabe que a janela de oportunidade no ténis de elite é curta. Mas também sabe que cada temporada pode ser a do renascimento. Não há idade para a coragem, e a sua história é testemunho de que os sonhos se sustentam em persistência.

Enquanto os grandes palcos esperam, Frederico vai a acumular vitórias, confiança e experiência. Cada Challenger é um degrau, cada partida um ensaio para o palco maior.

O ás da esperança

No ténis, como na vida, não é o ‘ranking’ que define a grandeza, mas a coragem de continuar. Frederico Silva é o ás discreto do ténis português — não aquele que brilha exclusivamente nas estatísticas, mas o que ilumina pela resistência.

Em Sófia, ele provou mais uma vez que está vivo no circuito, pronto para lutar por cada ponto, cada jogo, cada sonho.

E talvez seja isso que mais inspira. A certeza de que, mesmo nos courts mais silenciosos, um português das Caldas da Rainha continua a jogar como se cada bola fosse uma esperança lançada ao futuro.

Sabia que

Frederico Silva nasceu a 18 de março de 1995, nas Caldas da Rainha. É aí que começou a treinar e a sonhar com o ténis profissional.

 

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