Tiago Apolónia: Resiliência em Buenos Aires, sonho nos oitavos de final
🖋️ Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis de Mesa
![]() |
. |
O tango lusitano na capital argentina
Na cidade onde outrora brilharam os
Jogos Olímpicos da Juventude, um veterano do ténis de mesa português voltou a
demonstrar que a idade não apaga o instinto, nem o ‘ranking’ define o coração
de um jogador. Tiago Apolónia, com 37 anos, escreveu mais um capítulo de luta e
superação no WTT Contender de Buenos Aires, ao vencer o japonês Kazuki Hamada
por 3-2.
Uma vitória que nasceu da paciência
Não foi um triunfo fácil, nem seria
de esperar. Hamada, número 89 do ‘ranking’ mundial, apresentou um estilo
agressivo, dinâmico, típico da escola nipónica. Tiago, mais experiente,
jogou com o tempo — como quem empurra as peças de um relógio para fazer o tempo
andar mais devagar.
Perdeu o segundo e o terceiro ‘sets’
(8-11, 5-11), deixando antever um desfecho precoce. Mas Apolónia conhece bem o
caminho das pedras — já o percorreu em palcos maiores, com pressões mais
intensas. Voltou a equilibrar a partida no quarto ‘set’ (11–8) e fechou com
autoridade no decisivo (11–8), num encontro que durou mais de meia hora e
exigiu cabeça fria e mãos firmes.
Entre dois mundos:
experiência contra juventude
Tiago Apolónia ocupa atualmente o
99.º lugar do ‘ranking’ mundial, mas a sua carreira vai muito além dos números.
É um dos três nomes maiores do ténis de mesa português do século XXI, ao lado
de João Monteiro e Marcos Freitas, com quem conquistou, entre outros feitos, o
inédito título de Campeão Europeu de Equipas em 2014.
Em Buenos Aires, joga num circuito
global onde a juventude é impaciente e a técnica floresce cada semana em novos
talentos. Contra Hamada, mostrou que o ténis de mesa também é arte de resistir,
de prever o ponto seguinte antes de ele nascer. Uma luta onde a mente comanda o
pulso.
O desafio que se segue:
um colosso ou uma esperança
A próxima ronda não será somente mais
uma partida. Apolónia terá pela frente o
vencedor entre o brasileiro Hugo Calderano, atual n.º 3 do ‘ranking’ mundial, e
Leandro Fuentes, argentino que ocupa o longínquo 685.º lugar da hierarquia.
Caso Calderano vença, o que parece
previsível, o português enfrentará um dos jogadores mais fortes do planeta,
símbolo do crescimento latino-americano no ténis de mesa. Será um embate entre
hemisférios, entre continentes e entre estilos — e talvez, entre gerações.
Mas se o improvável acontecer e
Fuentes avançar, o português encontrará um adversário teoricamente mais
acessível, num duelo que traria consigo o peso da obrigação e a armadilha da
ansiedade.
Tiago Apolónia: o resistente
O que faz alguém, após tantos anos de
carreira, manter-se competitivo ao mais alto nível? Apolónia responde
com ação. Continua a viajar, a treinar, a competir com jovens nascidos anos
depois da sua primeira internacionalização sénior. Continua a lutar por
Portugal, por ‘ranking’, por paixão.
A sua trajetória não tem sido isenta
de obstáculos: lesões, mudanças de clubes, desafios pessoais e a constante
renovação da elite mundial. Mas Apolónia soube reinventar-se. Passou por clubes
na Alemanha, Áustria e outros circuitos exigentes, adaptando o seu jogo a
diferentes realidades, sem nunca perder a identidade: agressivo no serviço,
firme no bloco, inteligente na construção do ponto.
Portugal e o futuro da
modalidade
A presença do lisboeta nesta fase do
WTT Contender não é apenas um feito individual. É uma chamada de atenção para a
importância de manter vivas as referências, num país onde o ténis de mesa
continua a lutar por espaço.
Portugal tem talentos emergentes,
como Tiago Abiodun, Júlia Leal, Matilde Pinto, e uma geração Sub 15 a dar sinais de maturidade.
Mas a longevidade de atletas como Apolónia demonstra o valor da persistência e
da preparação a longo prazo. Não basta formar talentos: é preciso alimentá-los
com estruturas, apoios e competições.
A Federação Portuguesa de Ténis de
Mesa e os clubes têm feito esse esforço. Mas o caso de Tiago é especial: é a
prova viva de que o trabalho, quando continuado e apoiado, pode gerar carreiras
que ultrapassam o ciclo de um ou dois Jogos Olímpicos.
Uma cidade, mil
histórias
Buenos Aires é mais do que um
cenário. É uma cidade que vibra com o desporto, da bombonera ao ‘tatami’ de
judo. Recebeu os Jogos Olímpicos da Juventude em 2018 e é um ponto de passagem
obrigatório para qualquer circuito internacional.
Para o lisboeta, esta cidade
guarda agora mais uma memória. Um triunfo em cinco ‘sets’, suado e merecido. Um
passo em frente num torneio que pode significar muito — ou apenas ser mais uma
paragem. O que importa é que ele continua. E continua bem.
A essência do jogo
O ténis de mesa, muitas vezes
subvalorizado no panorama desportivo global, é um dos desportos mais exigentes
em termos de reflexos, inteligência espacial e preparação técnica. A bola pode
atingir velocidades superiores a 100 km/h. Os pontos duram segundos, mas as
decisões devem ser tomadas em milésimos.
Apolónia domina essa dança há mais de duas
décadas. E mesmo que os grandes títulos possam estar menos frequentes, a sua
presença nos torneios internacionais continua a ser um farol para os jovens
atletas portugueses.
Em direção ao que vem
Na sexta-feira, o olímpico luso entrará de novo na mesa. Frente a si poderá estar Hugo Calderano, favorito ao
título em Buenos Aires. Mas quem o conhece sabe que ele gosta dos grandes
desafios. Não joga apenas para competir. Joga para marcar pontos — e fazer
história.
Na era dos jovens prodígios, o
português resiste com a serenidade de quem já venceu batalhas maiores. E cada
vez que entra em campo, lembra-nos que o desporto também é feito de
longevidade, de consistência e de paixão duradoura.
Gostou do feito de Tiago Apolónia?
Partilhe este artigo, siga o Entrar no Mundo das Modalidades e ajude-nos
a levar o ténis de mesa e os seus heróis a mais leitores.
Resultados de quinta-feira, 24 de julho |
Singulares Masculinos – Ronda de 32 Tiago Apolónia, 3 – Kazuki Hamada (JPN), 2 |
11-8, 8-11, 5-11, 11-8, 11-8 |
Programa de sexta-feira, 25 de julho |
Singulares
Masculinos – Oitavos de Final |
|
Comentários
Enviar um comentário
Críticas construtivas e envio de notícias.