Quando o silêncio cai na rede: Porto Open em voz baixa no Monte Aventino
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Direitos Reservados. A cerimónia de entrega de prémios contou com poucos entusiastas. |
O eco no Monte Aventino
Ao início da tarde, num silêncio
quase litúrgico, terminou no Monte Aventino o maior torneio internacional
feminino de ténis do Norte de Portugal. Tereza Valentova, jovem checa de 18
anos, levou o título do WTA 125 Eupago Porto Open. Levou também, quem sabe, a
convicção de que será figura no circuito profissional. Mas não levou aplausos
retumbantes, nem uma multidão em êxtase. Levou um troféu e um eco.
O Porto e o ténis: uma relação distante?
O Porto é uma cidade com paixão por
desportos que deem luta, suor e multidão. Futebol, claro. Andebol, até, ou mesmo hóquei em patins. O
ténis, por outro lado, parece um jantar de gala em bairro popular de Campanhã: ninguém
proíbe, mas também ninguém vai. E quando vai, é por engano ou convite. O Eupago
Porto Open, torneio com estatuto internacional, viu passar lendas e boas
promessas. Mas viu, acima de tudo, o desaparecimento do público.
Da glória de Arantxa ao vazio das
cadeiras
Foi há vinte anos que a espanhola Arantxa Sánchez
venceu neste mesmo torneio. Na altura, a média de espetadores por dia era mil.
Hoje, nem chega a cinquenta. Há vinte anos havia faixas, gente com binóculos,
crianças a solicitar autógrafos. Hoje, há lugares vazios e silêncio que ecoa. O
court central do Monte Aventino mais parece um palco abandonado depois da peça.
Monte Aventino: uma sala de visitas
por estrear
Descentralizaram. Levaram o torneio para o Monte Aventino, num gesto que se quer inclusivo. Mas à sala nova falta-lhe movimento. Não há quem bata à porta. Nos tempos em que o torneio se realizava no Lawn Tennis Club da Foz ou no Clube de Ténis do Porto, havia rotinas. Havia aqueles sócios que não perdiam um jogo, aqueles curiosos que adoravam ver de perto a elegância do ténis. E havia também a magia de espreitar um clube privado por dentro, como quem entra num jardim fechado por engano e resolve ficar.
Na entrega de prémios, não se constatou um
único representante da Câmara Municipal do Porto. Da Federação Portuguesa de Ténis veio o vice-presidente
Paulo Cutileiro, num fim de semana em que, por sorte ou conveniência, estava
por perto. A ausência do poder político local foi, ironicamente, a presença
mais notada.
De quem é a culpa?
Será do local? Do ‘marketing’? Do
desinteresse generalizado? A resposta talvez esteja na conjugação de todos. Mas
há algo mais: a falta de continuidade, de comunicação emocional, de
envolvimento com escolas, com clubes, com bairros. O ténis, nesta edição, pareceu
um convidado educado numa festa onde todos estavam de passagem. E isso, no
Porto, é quase um pecado.
O talento não chegou para encher bancadas
Tereza Valentova mostrou um jogo
maduro, inteligente, com variações dignas de top 50. Mas talento, neste caso,
não basta. Não basta jogar bem para que se encha um recinto. É preciso
narrativa, envolvimento, antecipação. É preciso que as pessoas saibam que algo
está a acontecer. Porque, no Porto, há vida de sobra. Há cultura, há fome de
eventos. Só não houve convite real.
O Porto do ténis não é o Porto dos
cartazes, dos postais, nem das agendas culturais. É um Porto subterrâneo,
discreto, feito de entusiasmos isolados e clubes fechados. Mas está lá. Existe.
E podia ser um Porto visível, partilhado, se alguém se lembrasse de acender a
luz. E de abrir a porta.
O jogo continua, mas não se ouvem os aplausos
Termina mais uma edição do torneio,
com promessas no court e silêncio nas bancadas. A cidade que observou Arantxa
erguer um troféu parece ter virado o rosto. Mas talvez não para sempre. Talvez
falte pouco. Um plano, um gesto, uma chamada. O Porto não precisa de muito para
se apaixonar. Mas precisa de um motivo. Ou, pelo menos, de um convite.
E há-se chegar o dia em que o Monte
Aventino não será apenas um eco. Será grito. Aplauso. Cadeira cheia. Porto
inteiro.
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