Portugal com presença forte no WTT Lagos
🖋️ Por: António Vieira Pacheco
📸 Créditos: Federação Portuguesa de Ténis de Mesa
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João Geraldo, Fu Yu e Jieni Shao seguem firmes na Nigéria
Em Lagos, a cidade nigeriana onde o
calor e a vida se misturam numa cadência própria, o ténis de mesa encontrou uma
casa efémera. O Sir Molade Okoya Thomas Hall, com a sua atmosfera vibrante,
tornou-se palco para o silêncio dos momentos decisivos, entrecortado somente
pelo som ritmado da bola contra a mesa — como um coração que bate pelo
desporto.
E foi nesse cenário quente e
entusiástico que Fu Yu, Jieni Shao e João Geraldo escreveram mais uma
página nas suas histórias de raquete na mão e sonho nos olhos.
João Geraldo: o viajante sereno do circuito
Entre o ruído dos apoiantes e o foco
interno, João Geraldo entrou com a serenidade de quem sabe que a maior batalha
se trava por dentro. O português, 136.º no ‘ranking’ mundial, enfrentou o
italiano Carlo Rossi (212.º), um jovem em ascensão, mas sem o peso da
experiência internacional que João carrega.
Após ceder o primeiro ‘set’ (13–11),
respondeu com autoridade nos seguintes: 5-11, 6-11, 6-11. Foi como se, ao cair
o primeiro round, tivesse ouvido o eco do que é preciso corrigir — e afinado o
compasso.
O próximo desafio é o francês Romain
Ruiz, ainda sem ‘ranking’ mundial, mas em Lagos, todos os pontos contam. E
João sabe isso melhor do que ninguém.
Jieni Shao: a leveza que fere
Jieni Shao, número 54 do mundo, é uma
artista discreta da mesa. Com toques que não são somente técnicos, mas também
coreografados com subtileza, transformou o encontro contra a nigeriana Aishat
Rabiu numa demonstração de precisão.
Os parciais (7-11, 2-11, 1-11) não
deixam dúvidas — a superioridade foi evidente, mas não foi arrogante. Foi
metódica, limpa, serena.
Segue agora para os oitavos de final
contra a também nigeriana Ajoke Ojomu (192.ª). E Jieni, que já conheceu
os grandes palcos europeus e asiáticos, trará à mesa o que Lagos ainda não viu:
um controlo absoluto, como se cada jogada fosse escrita antes de ser feita.
Fu Yu: a bússola que resiste ao tempo
Com a sua presença tranquila e o
olhar aguçado, Fu Yu, 55.ª do ‘ranking’, não precisa de anunciar-se. A
sua entrada em campo fala por si. Frente à jovem Favour Ojo, não
concedeu espaço à dúvida: 4-11, 3-11, 2-11. Um jogo resolvido com precisão
quase científica.
A bola, nos seus serviços e
respostas, parecia dançar por sobre a mesa — leve, veloz, impossível de
agarrar. É a experiência a falar mais alto, mas também a paixão, ainda intacta
depois de tantos anos de competição ao mais alto nível.
Nos oitavos, enfrentará a turca Sibel
Altinkaya (110.ª), um teste à altura. Mas para quem já desafiou as melhores
da Ásia e da Europa, cada novo encontro é apenas mais uma linha escrita com
mestria.
O calor, o povo, a alma de Lagos
Lagos não é uma cidade neutra. Exige
adaptação. O clima, o fuso horário, o fervor dos espetadores — tudo em Lagos
pede ao atleta que se reencontre com os seus próprios limites. Mas os
portugueses não tremeram. Habituados a palcos ruidosos, mostraram ali a fibra
de quem joga não só com o corpo, mas com o espírito.
E, de certo modo, o que se viu em
Lagos foi mais do que três jogos. Foi uma representação de Portugal — um país
pequeno em dimensão, mas imenso em talento e vontade. Um país que, mesmo sem os
holofotes do futebol, insiste em escrever histórias com bola pequena e raquete
firme.
Subir degraus até ao impossível
Os oitavos de final são como a curva
antes do cume. Não garantem glória, mas apontam o caminho. Para João, Jieni
e Fu Yu, é o momento de testar tudo: a preparação, a tática, a paciência.
É aqui que os erros são fatais e os
detalhes fazem a diferença. É também aqui que os corações se aceleram — não só
dos jogadores, mas de quem acompanha à distância. Porque ver estes três nomes
nas fases finais de um torneio internacional é ver o ténis de mesa português
espelhar-se no mundo.
Portugal, esse mestre discreto
Não é todos os dias que Portugal tem
três atletas nos oitavos de final de um WTT. Mas quando isso acontece, devemos
parar. Olhar. Agradecer. Porque estes momentos, embora efémeros, são sementes.
E em cada ponto que João, Jieni e Fu Yu conquistam, há uma criança, num
pavilhão de bairro, a acreditar que também pode chegar ali.
Eles são faróis. Não fazem barulho.
Apenas iluminam.
Resultados – Quinta-feira, 24 julho |
Singulares Masculinos – Ronda de 32
|
Carlo Rossi (ITA), 1 – João Geraldo, 3
|
13-11, 5-11, 6-11, 6-1)
|
Singulares Femininos – Ronda de 32 |
Aishat
Rabiu (Nigéria), 0 – Jieni Shao, 3 |
7-11, 2-11, 1-11
|
Favour
Ojo (Nigéria), 0 – Fu Yu, 3
|
4-11, 3-11, 2-11 |
Programa – sexta-feira, 25 de julho
|
Singulares Femininos – Oitavos de Final
|
Ajoke Ojomu (Nigéria) – Jieni
Shao |
Ibel Altinkaya (Turquia) – Fu Yu
|
Singulares Masculinos – Oitavos de Final
|
Romain
Ruiz (França) – João Geraldo |
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