Como se tornar num campeão português de ténis de mesa: requisitos essenciais

 🖋️ Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: Direitos Reservados

Uma das primeiras fases para se formar um campeão é saber pegar numa raqueta.
Há um caminho longo para formar um campeão de ténis de mesa.

O ténis de mesa em Portugal tem talento, exaltação e história, mas formar um campeão é uma tarefa que envolve muito mais do que aptidões técnicas. Este artigo explora o percurso complexo e coletivo que transforma jovens promessas em atletas de elite.

Entre o ruído seco da bola ao bater na mesa e a atenção concentrada do jogador, existe um trajeto extenso e invisível. Um percurso que começa muito antes da primeira vitória e se constrói, dia após dia, com paciência, disciplina e paixão.

Por detrás de cada gesto preciso e cada ponto conquistado, esconde-se uma arquitetura invisível de sacrifício e perseverança. Forjar um campeão é obra coletiva — um mosaico tecido de olhares que acreditam, estruturas que sustentam e vontades que não capitulam.

Mas afinal, o que é necessário para formar um campeão de ténis de mesa?

Um talento que precisa de ser descoberto (e nutrido)

Há muito trabalho para formar um atleta de alta competição.
Um serviço no ténis de mesa.
Os campeões não nascem prontos — descobrem-se gradualmente. Muitas vezes, o talento aparece onde menos se espera: num pavilhão escolar, num clube local, numa aldeia que ninguém conhece. Mas o talento, por si só, não basta. Necessita de olhos vigilantes para o identificar e mãos pacientemente orientadoras.

Em Portugal, ainda é rara a existência de estruturas sistemáticas de deteção de talentos. O processo depende, muitas vezes, do olhar atento de um treinador voluntário, ou de um professor que reconhece algo especial no jeito como uma criança segura a raquete. É aqui que tudo começa.

Treino: o berço do campeão

A formação de um atleta de elite é construída em camadas. Principia com a aprendizagem técnica — a pega correta, os movimentos básicos, a leitura do efeito na bola. Subsequentemente, lapida-se o domínio emocional, a aptidão para deliberar com celeridade e a sagacidade tática.

Tudo isso exige treino estruturado, com técnicos habilitados e programas individualizados. Na Alemanha ou França, essa estrutura está muito bem desenvolvida. Já na nossa nação, apesar de haver muitas melhorias, ainda falta consistência e apoio, especialmente nas áreas mais afastadas das cidades.

A importância de um clube

Fazer parte de uma associação é muito mais do que treinar. É uma segunda casa. É onde se criam rotinas, hábitos, amizades, onde se aprende a perder com dignidade e a ganhar com humildade.

Existem clubes como o Sporting, Ponta do Pargo, São Roque, Ala de Gondomar e Mirandela que têm sido basilares para conceber campeões. São espaços onde os atletas contam uns com os outros e encontram força e esperança para alcançar os seus objetivos.

Porém, ainda há demasiado trabalho a ser executado. Para ter um sistema de base sólido, é essencial que muitos clubes estejam ativos, com treinadores qualificados e profissionais, materiais de qualidade e condições certas para treinar todos os dias.

Um dos passos é saber altura das redes... e as características da mesa.


Mentores: os faróis na jornada

Todo atleta tem a voz de um treinador ou até de mais do que um. Contribuem para forjar não exclusivamente a ludicidade, mas igualmente a índole. Os técnicos desempenham a função de guias e direcionam os praticantes nos dias custosos e também nos favoráveis — especialmente nos mais complicados.

Em Portugal, há técnicos que deram a vida à modalidade. Nomes como Mário Pedro Couto, Pedro Rufino, Ricardo Oliveira ou Pedro Oliveira são apenas alguns exemplos de quem esteve (ou está) por trás de gerações inteiras de atletas. Porém, muitos treinadores ainda trabalham em regime voluntário ou com apoios insuficientes. Para formar campeões, é essencial valorizar quem os forma.

 O papel invisível da família

A família é o suporte silencioso de qualquer jovem atleta. São os pais que levam aos treinos, que acompanham os torneios de fim de semana, que seguram as frustrações e celebram os triunfos. Muitas vezes, são também quem investe financeiramente, quando não existem apoios.

Sem uma rede familiar forte e compreensiva, o caminho torna-se mais íngreme. A formação de um campeão é sempre coletiva — e a família está no centro dessa construção.

Estudo e desporto: um equilíbrio possível

Conciliar a vida académica com o desporto de alto nível é um dos maiores desafios para jovens atletas. Em países com estruturas consolidadas, como a China ou a Alemanha, existem modelos de compatibilização escola-desporto, com horários adaptados e tutores escolares.

Em Portugal, há boas experiências — como o centro de alto rendimento de Gaia, onde os atletas têm acompanhamento escolar integrado. No entanto, é preciso alargar estas práticas. Nenhum jovem deve ter de escolher entre ser ótimo aluno e ser bom atleta.

O ténis de mesa é mental. A pressão de um ponto decisivo, o ruído interior da dúvida, o medo de falhar — tudo isto vive dentro da cabeça de um jogador. O amparo psicoterápico pode ser o divisor entre uma promessa atlética e uma excelência consagrada.

Aos poucos, este tema ganha espaço no desporto nacional. Mas continua longe de ser regra. Integrar psicólogos do desporto nos clubes e seleções não é luxo — é necessidade.

A conquista de troféus é um longo culminar de trabalho.
Os troféus são destinados aos melhores. É por eles que os atletas trabalham diariamente.

Competições: o palco do crescimento

Para crescer, é preciso competir. Torneios regionais, nacionais, internacionais. Cada jogo é uma lição. Cada adversário, um novo desafio.

Portugal tem hoje mais acesso a competições internacionais do que há 20 anos. Mas ainda há dificuldades logísticas e financeiras para muitos clubes participarem em provas fora do país. Uma estratégia lúcida de projeção internacional poderá revelar-se determinante — mormente para desportistas em fase juvenil.

A Federação Portuguesa de Ténis de Mesa tem dado passos importantes na promoção da modalidade. Apoios a centros de treino, seleções jovens e organização de eventos internacionais têm sido positivos. Mas o sistema ainda depende de vontade individual, e os recursos são limitados.

Para formar campeões, é preciso estabilidade. Investimento regular. Uma visão de longo prazo. O talento existe — falta dar-lhe asas.

E depois do alto rendimento?

O meu primeiro roamnce.
A formação de um campeão não termina quando ele atinge o topo. 

A travessia rumo à adultez, o ocaso da trajetória profissional, o inquietante 'e então?' São questões que precisam de respostas. 

E a vida depois do desporto deve ser preparada com a mesma seriedade com que se prepara um campeonato da Europa ou do Mundo.

Criar programas de reconversão profissional, apoiar a formação académica contínua e valorizar o papel dos ex-atletas como treinadores, mentores ou dirigentes é essencial para que o ciclo nunca se quebre.

Não há campeões solitários. Cada medalha, cada vitória, cada ‘ranking’ alcançado é o reflexo de uma rede invisível de apoios: técnicos, clubes, família, dirigentes, comunidade.

Formar um campeão de ténis de mesa é como construir um poema: cada verso conta, cada pausa é importante, e só na conclusão se abarca o verdadeiro sentido de tudo.

Se pretendermos ver Portugal na cumeeira da montanha do ténis de mesa mundial, necessitamos de escrever juntos essa história E tudo se insinua — como os ciclos eternos — com um altar modesto, um orbe fugidio e um delírio acalentado.

 O campeão é feito de pessoas

Mas também de mensagens

Não há campeões solitários. Cada medalha, cada sucesso, cada ‘ranking’ alcançado é o reflexo de uma rede invisível de apoios: técnicos, clubes, família, dirigentes, comunidade e profissionais de comunicação. Para que essa rede seja vista, compreendida e valorizada, é preciso mais do que bons resultados. É preciso comunicar.

No ténis de mesa português, a comunicação tem sido, demasiadas vezes, o elo mais quebradiço da estrutura. Faltam histórias narradas com alma. Faltam imagens que inspirem. Não há narrativas que liguem os jovens ao desporto, as famílias às competições, os patrocinadores aos sonhos dos atletas.

É comum observar campeonatos nacionais a decorrerem quase no anonimato, partidas de alto nível sem cobertura, feitos de atletas que passam despercebidos fora da bolha da modalidade. Enquanto isso, outras modalidades — com menos resultados, mas mais estratégia de comunicação — conquistam espaço, investimento e reconhecimento público.

A inexistência de uma diretriz comunicacional de largo alcance tolhe o ténis de mesa, confinando-o aos limites da sua própria esfera e obstruindo a sua projeção para além do círculo habitual de entusiastas. Num mundo onde visibilidade é valor, esta lacuna custa títulos, oportunidades e talento.

Formar um campeão de ténis de mesa é como construir um poema: cada verso conta, cada pausa é importante, e só no final se compreende o verdadeiro sentido de tudo. O desporto, tal como a arte, exige palco — não apenas para existir, mas para reverberar.

O campeão, por mais sublime que seja a sua façanha, permanecerá inaudito, como uma constelação oculta à vista dos comuns. Se tencionarmos ver Portugal no topo do ténis de mesa mundial, precisamos de escrever juntos essa história — e de a contar bem, com voz, com imagens, com verdade e com conhecimento.

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