Quando a terra batida da Maia brilhou por breves dias em 1995 e 1996

                                                           Por António Vieira Pacheco

Trinta anos apósA primeira edição de um torneio do circuito profissional na região nortenha.
Créditos: Direitos Reservados. O coração do Maia Open em 1995 — terra batida, tensões e aplausos.

Trinta anos do sonho Maia Open

Há momentos no desporto que, apesar de breves, deixam um rasto indelével — como a vibração de uma corda de raquete ao silenciar-se, ou o sopro da brisa que atravessa um campo de terra batida. Há 30 anos, o Norte de Portugal viveu um desses instantes: o Maia Open/Oporto Cup, uma centelha que iluminou os courts por um breve, mas intenso, momento. Um sonho em forma de torneio ATP.

A promessa de 1995

Na primavera daquele ano, o Maia Open entrou no calendário ATP como torneio World Series — o atual ATP 250. Não era somente uma competição, mas uma aposta ousada: gravar o Norte no mapa mundial do ténis. E por alguns dias, foi isso mesmo — um palco aberto ao mundo, onde a elite pisou a terra batida, fazendo o pó dançar sob o sol.

Jogadores de renome, especialmente a “armada espanhola”, especialistas na superfície de terra, trouxeram a sua arte e resistência. Alberto Berasategui venceu a final contra Carlos Costa (3-6, 6-3, 6-4), numa batalha que foi mais do que técnica: foi uma dança de nervos e paixão. Nos pares, Tomas Carbonell e Francisco Roig selaram a sua glória, acrescentando brilho ao evento.

A esperança dos portugueses

Para Portugal, o torneio foi espelho de sonho e desafio. Nuno Marques e Emanuel Couto lutaram até ao último ponto, caindo só nos tiebreaks finais... João Cunha e Silva enfrentou a dura realidade logo na primeira ronda. Eram mais que nomes: eram símbolos de um país ambicioso, e de uma região nortenha que sonhava com grandes feitos.

Um sonho da Maia

O court central foi criado com um teto móvel...
Créditos: Direitos Reservados: Complexo de Ténis da Maia.
O Maia Open nasceu da coragem da Câmara Municipal da Maia, que comprou a licença do torneio italiano de Florença por 321 mil dólares. Plantou uma semente numa terra fértil, mas ainda inexperiente, dando à região um convite para o grande palco do ténis mundial. A licença garantia o início de uma caminhada rumo à consolidação internacional.

Mas sonhos muitas vezes encontram ventos contrários. Em 1996, o brilho esmoreceu. Problemas financeiros, atrasos nos pagamentos — entregues em dinheiro vivo na época — geraram dúvidas e desconforto. A festa virou lição dura sobre gestão e confiança.

Fissuras na fundação

As falhas organizativas não foram só técnicas: eram fissuras numa base ainda frágil. Logo após essa segunda edição, o Maia Open desapareceu do calendário ATP, apesar do Departamento Médico e do Gabinete de Imprensa serem considerados de superior qualidade, como um cometa que corta o céu e desaparece na vastidão, deixando um rasto de beleza e mistério.

Hoje, três décadas depois, esse breve episódio é mais que memória — é símbolo. Um convite à reflexão honesta: paixão não basta, é preciso rigor, experiência e transparência. A Federação Portuguesa de Ténis investe milhões, mas não compra confiança e maturidade organizativa.

O sonho de um ATP Tour no Norte permanece aceso, como chama silenciosa que espera reacender. Para isso, é preciso aprender com o passado e construir um ecossistema forte, que resista às tempestades. Mais que vontade, o sucesso exige paciência, planeamento e solidez.

O ténis como metáfora da vida


O ténis é uma metáfora da vida: cada ponto, uma batalha; cada jogo, uma história de resiliência; cada torneio, um poema de esperança. A terra batida do Norte brilhou por breves dias em dois anos consecutivos, mas essa luz continua viva nas memórias e no sonho dos que acreditam.

O Maia Open/Oporto Cup foi um suspiro, sim — mas um suspiro que ressoa, inspira e, quem sabe, poderá tornar-se num grito de glória. Um grito que volte a ecoar pelos courts do Norte, trazendo reconhecimento e provando que aqui também se joga para além do tempo.

Caminhar para a grandeza

Enquanto o ténis português cresce, é vital manter viva a chama daquele breve capítulo. No desporto, como na vida, os legados mais valiosos são os que nos ensinam a ser melhores. O Maia Open é a memória viva de que todo sonho começa com um primeiro passo — e cada passo, mesmo trôpego, é parte do caminho para a grandeza.


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