José Roquette: o campeão esquecido do ténis português

🖋️Por: António Vieira Pacheco

📸 Créditos: Direitos Reservados

⏱️ Tempo de leitura: 4 minutos

Faz 115 anos neste dia que nasceu uma lenda do ténis nacional.
Há 115 anos nascera uma lenda do ténis português. O seu nome é José Roquette.

Uma linhagem que moldou um campeão

Hoje, 28 de maio, o tempo dobra-se para recordar uma das figuras maiores da história do ténis português. José Roquette nasceu, em Lisboa, em 1910, no seio de uma família que carregava já o peso do desporto e da responsabilidade social. Era filho do Visconde de Alvalade, fundador do Sporting Clube de Portugal, e sobrinho de António Casanovas, que o iniciou no ténis no court da Avenida da Liberdade, em Lisboa, quando tinha somente 16 anos.

A linhagem podia ter aberto portas fáceis, mas Roquette não se limitou a viver da herança familiar. No ténis encontrou o seu palco de afirmação, onde construiu uma carreira sólida, marcada por conquistas e valores que o distinguiriam para sempre.

Do court lisboeta à Invicta: o percurso desportivo

Aos 24 anos, a vida levou-o para o Porto, onde se estabeleceu como corretor da Bolsa. Mas foi também na Cidade Invicta que se enraizou como desportista. Primeiro representou o Futebol Clube do Porto, depois o Lawn Tennis Clube da Foz, onde inscreveu o seu nome na história da modalidade.

Entre 1934 e 1953, conquistou 14 títulos nacionais em singulares e 13 em pares, muitos deles ao lado do primo Eduardo Ricciardi. A sua longevidade competitiva impressiona: durante quase duas décadas manteve-se no topo do ténis português, disputando e vencendo campeonatos num tempo em que os recursos eram limitados e a dedicação era a principal ferramenta de trabalho.

Roquette não foi somente um atleta vitorioso; foi um símbolo de rigor, espírito competitivo e resiliência.

Muito além das vitórias: o homem e os valores

José Roquette deixou os courts aos 48 anos. Não porque lhe faltasse energia, mas porque sabia que também a grandeza exige tempo para se retirar com dignidade. Os que o conheceram descrevem-no como “fisicamente forte, de espírito franco e carácter nobre”.

Era um homem que valorizava o triunfo, mas nunca se deixava dominar por ele. No ténis, como na vida, defendia que a maior vitória era a do dever cumprido. O ‘fair-play’ não era para ele um chavão; era uma prática diária, fosse contra adversários em campo ou nas relações sociais e profissionais.

A sua postura refletia-se em tudo: como atleta, como corretor da Bolsa, como membro da comunidade desportiva e, acima de tudo, como homem de família.

Reconhecimento tardio, mas eterno

Apesar da dimensão da sua carreira, o reconhecimento oficial tardou. Só em 1986, muitos anos após ter abandonado a competição, recebeu a Medalha de Mérito Desportivo, distinção que assinalava a importância do seu percurso. Dois anos depois, a Federação Internacional de Ténis agraciou-o com a Medalha de Bons Serviços, num gesto que consagrava não apenas o atleta, mas também o homem que dignificara a modalidade.

Essas medalhas eram mais do que símbolos metálicos: representavam a validação de uma vida dedicada à elevação do ténis nacional.

Entre a memória e o esquecimento

José Roquette faleceu a 12 de dezembro de 2003. Partiu em silêncio, quase com a mesma discrição com que viveu parte da sua vida pública. Com ele, parece ter desaparecido também uma parte da memória coletiva do ténis português.

Hoje, ao passear pela Foz do Douro, no Porto, ou nos courts onde brilhou, é impossível não se perguntar: quantos jovens conhecem o nome de José Roquette? Quantas vezes foi lembrado em torneios, assembleias ou homenagens da modalidade?

O esquecimento é um adversário invisível, mas persistente. E, neste caso, parece estar a levar vantagem.

Um legado para o futuro do ténis português

As novas gerações precisam de exemplos, e José Roquette é um deles. Mais do que um campeão com números impressionantes, deixou uma marca de integridade e amor pela modalidade. Foi um homem que sabia unir vitória e humildade, competição e respeito, tradição e modernidade.

Num tempo em que o ténis português procura consolidar-se no panorama internacional, a memória de Roquette pode ser uma inspiração. Resgatar a sua história não é apenas um ato de homenagem, mas um gesto de responsabilidade coletiva: honrar o passado para projetar.

Uma vida que não deve ser esquecida

José Roquette provou que a grandeza não está apenas nos títulos conquistados, mas também na forma como se vive a paixão por uma modalidade. Foi atleta, campeão, exemplo de ‘fair-play’ e referência moral.

As suas próprias palavras ecoam até hoje:
“Os triunfos trazem alegria, mas a vitória do dever cumprido é bem mais agradável de saborear.”

É esse o legado que fica: o da vitória maior, a da vida vivida com dignidade e dedicação.

A memória que volte ao jogo

Neste dia de lembrança, que as novas gerações reencontrem nos passos de Roquette não somente o atleta, mas o exemplo. O homem que venceu em campo e, sobretudo, fora dele.

Porque há nomes que não devem ser enterrados sob a poeira do tempo, mas celebrados com a luz da gratidão.


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