Quando o talento se curva ao mérito do outro
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. Pedro Araújo o último português a cair no Jamor. |
O ténis tem destas coisas — num instante aquece-se com esperança, noutro, é o silêncio do fim que domina o court. Oeiras acordou com a promessa de uma manhã portuguesa, mas viu-se, cedo demais, sem representantes em singulares. Pedro Araújo, último nome luso no quadro principal, despediu-se do torneio após derrota frente ao suíço Remy Bertola, com os parciais de 6-3 e 6-1.
Na sala de imprensa, a serenidade tomou o lugar da frustração. Com discurso maduro, Araújo reconheceu o mérito adversário, traçou o seu caminho nos Challenger e apontou, com esperança, ao Millennium Estoril Open.
Mérito ao adversário
“Não é agradável estar sempre a interromper encontros e a mudar de courts. É chato estar um dia inteiro à espera para jogar e depois acabar por não acontecer. Acho que ele jogou muitíssimo bem, não senti que tivesse muitas oportunidades ao longo do encontro. No início do primeiro ‘set’ ainda consegui equilibrar um pouco o jogo, mas a partir daí nunca consegui estar perto o suficiente do nível dele. Acho que foi mais mérito dele, do que demérito meu. Não acho que tenha jogado mal, mas poderia ter estado melhor.”
Reconhecer o outro é também um ato de crescimento — e Araújo, mesmo no dia da despedida, mostrou que o espírito competitivo pode ser lúcido e generoso.
O caminho passa pelos Challenger
“Tenho consciência de que jogar bem posso ganhar rondas nestes torneios, infelizmente não consegui, mas acabei por apanhar um adversário que foi claramente melhor do que eu. Não há possibilidade de me desconectar, tenho que contar sempre que jogarei na semana seguinte, e se não acontecer, não acontece. Nestas alturas, em que temos uma semana entre provas em Portugal, faz sentido jogar Challenger, também para ver como me sinto nestes torneios, e pensar futuramente em passar em forma definitiva para este nível.”
A estrada faz-se a jogar, a cair, a insistir. E o lisboeta continua a afinar a bússola — porque os grandes voos não acontecem num curto intervalo de tempo.
Millennium Estoril Open no horizonte
“É óbvio que quero jogar o Estoril Open, é uma semana especial para todos os portugueses, é uma semana onde eu já joguei bem. Portanto tenho essa expectativa de jogar, mas agora é esperar para ver o que acontece.”
Entre a expectativa e a paciência, vai-se construindo o sonho. Araújo quer participar no Estoril — onde todos querem voltar a ver um português com alma de conquista.
A derrota pode ser um passo atrás — mas também é, muitas vezes, o início de um novo salto. Araújo parte de Oeiras com menos uma vitória, mas com mais caminho, mais consciência e mais sede.
E enquanto houver vontade de jogar, o jogo continuará a ser dele.
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