Francisca Jorge mira Wimbledon

                                                          Por António Vieira Pacheco

Créditos: FPT. Francisca Jorge analisa a semana em Oeiras e fala de Wimbledon.

 

Os olhos de Francisca Jorge são como velas tensas no meio da tempestade: só veem o processo, o trabalho, a entrega diária. Mas, se quisermos olhar para além da superfície, se escutarmos o sussurro do vento que atravessa o Clube Escola de Ténis de Oeiras, percebemos que a alma da líder nacional aponta mais alto — tão alto quanto Wimbledon, já espreitando no horizonte.

As meias-finais do Oeiras CETO Open, num W100 ventoso e exigente, colocam-na a somente uns 25 lugares do grande palco dos sonhos.
“Vou-me agarrar a isso, quero voltar a esses palcos”, soltou Francisca, 25 anos, na ressaca de uma jornada dupla em Oeiras. Uma brisa de esperança soprava-lhe nas palavras, embora a mente permanecesse ancorada no que mais importa: “Há que focar no trabalho, acreditar mais em mim. Está a faltar alguma consistência.”

Onde a experiência pesa e o vento ensina

A consistência, essa arte que separa a elite do comum, foi a chave que faltou para destrancar a porta da final. Contra a belga Greet Minnen, número 90 do mundo, Francisca lutou, mas o vento, invisível e implacável, parecia soprar sempre contra.

“Elas estão mais habituadas a jogar momentos importantes. Têm mais experiência a jogar a este nível”, reconheceu, sem máscaras, a irmã mais velha dos Jorge. Um elogio encapotado a Minnen, que soube subir o nível quando o jogo se decidiu nas entrelinhas — e a capacidade de dançar com a ventania.

A maior final da carreira ficou adiada. O voo da terceira final W100 ainda não encontrou o céu aberto. Mas, em Oeiras, Kika conquistou algo que não se mede em troféus: “Como é óbvio, gostava de ter atingido a final e ganhá-la, mas no global foi uma semana ótima, de bastante bom nível. Tive bastante bem a nível de mentalidade e presença em campo.”

Lições que sopram do futuro

Num torneio onde o vento moldou jogadas e pensamentos, foi outro sopro — este vindo do corpo — que causou o maior lamento. As dores no pé obrigaram a assistência médica a 3-3 no segundo ‘set’, quando Francisca liderava já com um break de vantagem.
Nada de grave, suspirou depois, mas a experiência ensinou: talvez noutra ocasião seja melhor esperar, manter o embalo, adiar a pausa.

É assim que se crescem asas.

Francisca Jorge parte de Oeiras não só mais perto do ‘ranking’ de Wimbledon, mas também mais perto de si mesma. Como uma brisa que começa tímida e acaba furacão, a sua jornada escreve-se dia a dia — um processo invisível aos olhos impacientes, mas claro para quem sabe, como ela, que o voo só acontece para quem não desiste de enfrentar o vento.


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